sexta-feira, fevereiro 10, 2006

O Amor

Parece que Amor anda nas bocas do povo

Não há raio de sítio onde não se fale de amor, Está tudo a passar-se???????????
Mas que merda é esta??????

É gente aos beijinhos e apertos em tudo quanto é sítio, é gente a escrever cartas de amor, são ramos de flores nas mãos de homens com cara de parvos, são coraçõezinhos de mil formas e feitios nas montras das lojas, para já não falar nos ursinhos de peluche a dizer “I love you so much” da parte da frente e “Made in China” da parte de trás, numa etiqueta branca que sai do cu do urso.

Depois há as baladas de amor, desde a música do pimba mais foleiro da Beira Baixa, até ao “Donna, seus beijos traiçoeiros...” dos Roupa Nova, ou ao Roxane do Sting é só amor (isto para não falar de outras fraudes em "stereo".
Na literatura, bem... aí nem vale a pena falar, são milhares de milhões de toneladas de papel gastos a escrever fajutas historietas de amor. Podemos começar pelo Romeu e Julieta do decadente Shakespeare e acabar numa pessegada qualquer da "Colecção Arlequim".

E no cinema??? A palhaçada do Sweet November, do Piano, do Pretty Woman... Huuuugghhhhh dá-me vómitos. e o Closer??? ....
(Bem já vomitei... eu vi logo que as chamussas do almoço vinham fora com esta conversa de tótó...)

Nos Blogs, pronto... aí é a desgraça, é Amor a torto e a direito.

Repito: Mas que merda é esta??????

“Tasse” tudo a passar???????

O que é que esta gente anda a beber???
E se fossem todos apanhar no cú???? Não seria melhor???? Mas apanhar no cu sem amor, claro, porque apanhar no cú com amor até deve ser bom ( a avaliar pelas pessoas que levam, até deve ser bom ( qualquer dia experimento)), e eu não desejo nada de bom a quem pensa em amor.

Seus amantes fajutos, decadentes, promíscuos e sonhadores parvos. E se em vez de amor, pensassem em trabalhar para levantar este país???? Não acham que seria bem melhor??? Por cada beijinho que se dá são 0.5 cêntimos de euro de produtividade que o nosso país não tem, e cada queca, bem.... uma queca sem amor nem sai muito cara, mas uma com amor arrasa com a economia.

Será que nos relatórios e contas do Banco de Portugal, há Balanços, Balancetes e demonstrações de resultados dos amantes?
Será que o orçamento para fazer um hospital se mede em beijinhos e quecas???

Continuem a amar que vão ter um triste enterro... Continuem... e depois venham-se cá queixar que eu mando-vos logo à merda!

...

...

Mas esperem, eu não amo, já não me lembro o que é ser amado, já não leio livros, nem oiço canções de amor, sou um autómato que deambula pela vida sem já saber o que é a própria vida, já não amo há tanto tempo que já não tenho vida.

Eu nos livros que lia, via que o amor era o motor, era a razão para se viver. Se calhar é por causa disso que já não me importo de morrer.

Mas porquê?

Queria voltar a oferecer uma flor, queria que me dessem um beijo, queria passear de mão dada com uma cara de parvo. Queria dar um mergulho nas águas geladas do mar do Guincho para me fazer forte à frente do meu amor (e depois cair ao lado dela morto com uma hipotermia fulminante) ...

Queria oferecer um urso de peluche a dizer “I Love you Honey”...

(Não... Espera... fodassse não, essa merda não... URSOS DE PELUCHE E FRASES FEITAS É QUE NÃO!!!!! DEFINITIVAMENTE N Ã O!!! )

Nem me importava que me amassem outra vez, agora foleirices de mau gosto dispenso...

Continuando...
Estava eu a falar de amor não era???
Era tão bom que eu ainda soubesse de que falava... mas já esqueci.

Já não me lembro o que é pôr a mão no peito de quem se ama para sentir o tiquetaquear do coração, já não me lembro das voltas que uma língua tem que dar para um beijinho, já não me lembro do que é ter razões para acordar, para existir...

Já não me lembro do que é alimentar-me de um olhar, e quase morrer de fome, já não me lembro como era...

...e tu meu amor, lembras-te?

Se calhar eu próprio já não passo de uma sombra, um fantasma...

Estou cansado, muito cansado,

A vida sem dar e receber amor cansa!

O amor é uma cama de rede, pendurada entre duas árvores, onde relaxamos, descansamos, suspensos, quase levitando...

Os olhos não brilham, a boca não sorri, já não sei se o coração ainda bate... ( Se calhar é o meu fígado ou bexiga que me faz estar vivo)...

Bem, já são 19 horas... chega de trabalho por hoje vou desligar o computador e ir para casa pensar em Amor...

...é tão booommm.

NaLua

No teu Rosto


Naquela praia, numa qualquer alvorada desta existência que nos desconsola, dizemos palavras que nunca mais iremos repetir! Nunca mais!

Por entre juras, despedidas, silêncios e êxtases, sulcamos na areia um baixo relevo surrealista e efémero, que será o testamento de tudo o que temos para deixar! A próxima maré encarregar-se-á de o levar para bem longe, quem sabe se para o sítio para onde nós própios vamos. Quem sabe?!

Cansados, contemplamo-nos, procurando reter imagens que sabemos não poder ver mais.
No teu rosto, ainda por secar, está ainda uma cascata de emoções carpidas ao som daquela balada que ouvimos na noite em que nos conhecemos, e ao som da qual começamos a escrever esta história. Com as minhas mãos seco-o, com a minha boca beijo-o. Juntos, levantamo-nos, e com os olhos postos no horizonte distante, caminhamos de mãos dadas na direcção do mar.

Nossos corpos, nus, húmidos, quentes, dirigem-se mar a dentro, incendiando um mar que nos presenteia com a espuma das ondas.
Continuamos nadando, quando a água já não nos permite a fluência do andar. Nadaremos até que a fraqueza nos tulha os membros, e não nos permita o retorno, não nos permita que voltemos para trás, não nos permita que voltemos ao que éramos, áquilo que o destino nos foi impondo: a distância, a separação, o sofrimento!

Nossos corpos, nus, cansados, mornos, param de nadar e fitamo-nos demoradamente. Tentamos descobrir na boca do outro, a diferença entre o salgado da água que engolimos, e o salgado das lágrimas que morreram no canto dos nossos lábios.
Vamo-nos afundando sem oferecer resistência ao mar que nos engole, apertamo-nos uma última vez, como nos aperta a força do sentimento que nos uniu.
Descemos na escuridão do mar, para nunca mais sentirmos este sentimento que nos destruíu, para nunca mais nos sentirmos, para nunca mais ninguém nos sentir.

Seremos recordados, como o são aqueles que seguiram o seu caminho, na procura do que ousaram sonhar.

Mais tarde, quando a maré deixar secas as areias da praia, estaremos lá deitados, abraçados, nus..., rijos..., frios..., mortos!

No teu rosto, já secos, os limos que te afagaram a cara na tentativa de te secarem as lágrimas quando eu já não to pude fazer.


Lisboa
2000 Setembro 15
4H20M

terça-feira, fevereiro 07, 2006

A clareira


Penetro na noite escura o denso mato do sofrimento.
Também tu penetraste no meu coração, o aconchegaste, e logo partiste sem que se habituasse a tua presença.

A ver-me está a lua, cujo deslocar me transporta a sombra, a sombra que ignora as lágrimas que choro por ti!
Por ti que me ignoras por ti que não consigo ignorar!
Nesse mato do sofrimento, onde teimo em me querer perder, carpo mágoas, dores, amores, que podiam ser amores-perfeitos mas que não chegaram a despertar da semente podre que lancei em terra por arar!

Desvirgino o mato com a minha passagem, o manto de folhas secas parte-se com o peso da dor que sinto, abro um caminho que não terá retorno, que me levará até uma clareira donde não quererei regressar, donde não o poderei fazer.
Nessa clareira encontrarei uma árvore, uma árvore com ramos, ramos fortes onde poderei pendurar a corda que me abraçará quando já não o quiseres fazer!

Na cara terei um sorriso, que recorda um beijo sentido, proíbido mas inconsciente, ...nos olhos abertos, esbugalhados a boca onde dei e da qual recebi esse último beijo!

Nos braços escorridos ao longo do corpo, as mãos que te acariciaram, que te secaram as lágrimas vertidas numa manhã que prometi nunca ser motivo pra escrever uma história. Foi a minha última manhã feliz, foi hoje de manhã, foi a minha última manhã!
Quando a próxima manhã chegar, levará a lua, trará o sol e com ele virá o calor que fará evaporar o silêncio das palavras com que não te surpreendi, a serenata com que não te encantei.

Hó inábil criador que tão imprefeito me fizeste, hó desgraça que nunca me largaste, a tua mão foi demasiado forte para que eu te conseguisse fugir, fica-me o consolo de não me prenderes nem mais um dia, porque nem mais um dia terei!

Lisboa, 30 de Março de 1997

domingo, fevereiro 05, 2006


, onde o silêncio nos toca a alma e a consciência nos refreia o pensamento, procuro a essência duma vida que quero viver, mas que creio não poder existir.
, onde busco a certeza e encontro a dúvida que me faz crescer.
, onde sei que existo apenas por pensar.
, onde o vento me faz voar, e os pés se agarram ao chão como uma lapa se agarra à rocha. Procuro encontrar-te tal qual te procuro. Encontrar-te na esperança que me acordes do meu sono letárgico, e eu veja que não és um sonho, que és a realidade que me faz querer e poder existir.
Racionalmente, procuro idealizar-te de uma forma que possas ter, duma forma que não fira os padrões da cosciência, da sociedade e, claro os meus próprios, é por certo uma tarefa impossível, mas que eu procuro realizar incessantemente.
Racionalmente!
A racionalidade é a mais irracional das coisas. Pois na busca cega por uma racionalidade inexistente, tornamo-nos irracionais, insensíveis e tristes.
, onde procuro a companhia da solidão, encontro-te também só, assim não consigo estar só, pois estás sempre comigo, duma forma que me fazes sentir-te parte de mim. Mesmo não existindo!
, onde posso voar no mar e navegar no céu, consegues estar sempre a sorrir, a sorrir para mim com um sorriso que me apetece agarrar com os olhos e guardar no peito mesmo juntinho ao coração, tão juntinho que o fere e o sara, com a mesma rapidez, naquela parte do peito que ninguém pode tocar.
, onde corro até ti, sem te agarrar, onde te desvaneces ao mais pequeno toque, pedes-me que te descreva, que te diga como te penso, como te imagino. Permaneço calado por desconhecer respostas.
Quando mo pedes deleito-me com a maciez da tua voz, procuro dissecá-la, tomá-la parte por parte, embrulhá-la nuns tímpanos de ouro, guardá-la só para mim, só para mim.
, onde plano sobre o meu corpo, como um abutre observando a carcaça, dançamos, rodopiamos sobre nós próprios enquanto me dizes que me queres. Que me queres mais que tudo, que me queres, só por me quereres, só porque eu também te quero, só porque eu penso que ainda existes!
Será que ainda existes?
Eu continuo sem saber, mas preciso pensar que sim. Da mesma maneira que uma máquina precisa de combustível para trabalhar, eu preciso de ti para ser, para continuar a ser.
, onde eu existo, ou pelo menos penso poder exir.

Abril 2000