sábado, junho 03, 2006

Carta ao senhor simpático que me assaltou ontem!

Estimado senhor,

espero que esta missiva o encontre bem de saúde na companhia dos seus.

Antes de mais quero dar-lhe os parabéns, porque em mais de 10 anos de intensa vida nocturna, em que estacionei o carro nos mais recônditos cantos da nossa cidade (e não só), o senhor foi o primeiro a roubar-me. Aceite por favor os meus sinceros parabéns e a minha vénia.

Quero também pedir-lhe desculpa por não ter dentro do carro, bens mais preciosos, mas a crise é imensa e foi o que se arranjou... Lamento, mas nada posso fazer quanto a isso, talvez para a próxima arranje um Rolex para deixar no “Porta-Luvas”.

Aproveito para lhe dizer que não guardo rancor do que me fez, são coisas normais que as pessoas com mau carácter tem de fazer para sobreviver, e eu tenho a certeza que o seu carácter não é dos melhores e vontade de trabalhar honestamente, também não deve ter muita...

Quero preveni-lo que o casaco que me furtou é de elevada qualidade, vale aproximadamente 400€, não o venda por menos, pois se o fizer, para além de ladrão, o meu caro amigo... é burro!

O rádio é óptimo, dei 90€ por ele, mas talvez seja exagerado pedir tanto aos seus simpáticos receptadores...

O telefone da minha amiga, não sei quanto vale, mas não vai longe pois ela vai bloquear o aparelho e respectivo cartão.

Peço desculpa, também pelo facto de a carteira que estava no casaco, só ter documentos e não ter dinheiro, mas lá está,... a crise toca a todos e eu não sou excepção.

Sabe que para mim está sempre tudo bem, aceito com facilidade o que me fazem, e por isso vou dizer-lhe o que desejo para o seu futuro:

Espero que o casaco que me roubou, não seja suficiente para evitar que morra de frio, oxalá passe tanto frio que a sua circulação pare e tenham de lhe amputar as extremidades em virtude de várias gangrenas irreversíveis que vai ter. Aposto que sem as suas mãozinhas não roubará mais carros…

Espero também que nunca oiça o meu rádio, pois espero que fique surdo, ao ponto de não ouvir sequer a voz de prisão que os agentes da polícia lhe hão-de gritar um dia destes.

Quanto aos documentos que me furtou, espero que não lhe sirvam para que o seu cadáver seja um dia identificado. Gostaria muito que fosse enterrado numa vala camarária, sem identificação onde os seus familiares o possam ir chorar e velar...

Porque não sou pessoa de guardar ressentimentos, desejo que tenha uma vida longa... cheia de dor e sofrimento, em que definhe e agonize lentamente, que as suas entranhas se enrolem dentro de si até que o senhor se afogue no seu próprio vómito, e possa assim sentir a angústia de uma morte dolorosamente lenta a caminhar na sua direcção.

Para si, meu amigo, só lhe desejo coisas boas.

Se quiser saber algo mais de mim, posso dizer-lhe que sou um tipo quase feliz, sem os problemas de saúde que o meu amigo deve ter e que se arranjam quando se injectam drogas duras com seringas partilhadas, como deve ser o seu caso.
Tenho amigos bem diferentes daqueles que o senhor arranja nas sarjetas onde pernoita, ou nas cadeias onde vai passar umas férias por conta do Orçamento de Estado para a Justiça.

Fique sabendo, que cada vez que eu olhar para o “Tablier” e Porta-Luvas do meu carro, que o senhor fez o favor de partir, vou desejar que o enrabem com um ferro em brasa, ou que lhe dêem choques eléctricos na língua até que o senhor aprenda que não se faz mal a gente honesta como eu sou...

Caríssimo amigo, ladrão e filho de uma puta...

Termino esta carta, na esperança de que o dinheiro que vai fazer com a venda das coisas que comprei com o suor do meu trabalho, não chegue para a Farmácia, nem para as “Taxas Moderadoras” dos Hospitais por onde o senhor vai passar nos próximos anos se Deus quiser.

Despeço-me de V/ Excia. com uma cordial e merecida vénia.

Um grande abraço deste para sempre seu amigo,

NaLua

PS. Esqueci-me de lhe dizer que se eu por acaso descobrir quem o senhor é, sei de uns senhores que moram na Damaia, a quem darei 50€ para lhe destruírem ambas as rótulas. Se eu descobrir quem o senhor é no princípio do mês, logo depois de ter recebido o meu ordenado, darei a esses mesmos senhores 100€ para que lhe dêem uma pancadinha no cérebro com um “Taquinho de Basebol”, para que o senhor se fique a babar, a cagar e a mijar pelas perninhas abaixo para o resto da sua longa vida.

Outro grande abraço deste que jamais o esquecerá!

NL