Joaquim... (Uma vida Simples)

Houve uma fase da minha vida que me cruzei com um individuo realmente simples... na altura não dei valor ao fenómeno que ele representava, mas hoje lembro-me muitas vezes dele e admiro-o. Não o vejo desde 1998, mas pelas notícias que tenho está na mesma.
Chama-se Joaquim.
Joaquim, 28 anos na altura que convivi com ele, 1,75m de altura, 50 quilos de peso, camisola, calças e botas totalmente pretas... Cabelo liso, castanho, comprido atado.
Joaquim é arquitecto talentoso, passava a vida a desenhar tudo o que lhe aparecesse à frente com uma caneta Rotring preta, com tinta permanente também preta.
As únicas coisas que não eram de cor preta na vida de Joaquim, eram as folhas do bloco onde desenhava, o seu carro e a sua própria pele, completamente transparente em consequência da falta de Sol.
Joaquim, deitava-se quando o Sol ameaçava nascer e levantava-se por volta das 18 ou 19 horas. ( Não, deixem-se de disparates pensando que era a reincarnação do Conde Drácula, este deve ser o post mais sério que escrevi até hoje neste Blog). Para cúmulo, Joaquim punha cartolina preta nos vidros da janela do seu quarto para não acordar com o Sol que entrava pelas frestas mal fechadas do estore.
Nunca o interrogamos acerca de como era viver assim... Nunca ouvimos um lamento dos seu possíveis problemas, se é que ele os tinha... Nem um lamento...
Passava a vida a ouvir os Led Zeppelin, e umas guitarradas.
O seu passatempo preferido e o seu era fazer piões com o seu carro num campo de futebol abandonado da sua aldeia perdida no meio do Alentejo depois de despachar um copo de whisky barato e um charro.
O sonho de Joaquim, era 60 contos por mês para comer e fazer a sua casinha minúscula na sua aldeiazinha Alentejana, de quem nunca ninguém ouviu falar. O topo da sua carreira seria quando desse aulas de Educação Visual na escola preparatória mais próxima da sua aldeia.
Joaquim era (e penso que ainda é) um homem feliz!
Será preciso algo mais do que uma vida simples como esta?