sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Joaquim... (Uma vida Simples)


Houve uma fase da minha vida que me cruzei com um individuo realmente simples... na altura não dei valor ao fenómeno que ele representava, mas hoje lembro-me muitas vezes dele e admiro-o. Não o vejo desde 1998, mas pelas notícias que tenho está na mesma.

Chama-se Joaquim.

Joaquim, 28 anos na altura que convivi com ele, 1,75m de altura, 50 quilos de peso, camisola, calças e botas totalmente pretas... Cabelo liso, castanho, comprido atado.
Joaquim é arquitecto talentoso, passava a vida a desenhar tudo o que lhe aparecesse à frente com uma caneta Rotring preta, com tinta permanente também preta.
As únicas coisas que não eram de cor preta na vida de Joaquim, eram as folhas do bloco onde desenhava, o seu carro e a sua própria pele, completamente transparente em consequência da falta de Sol.

Joaquim, deitava-se quando o Sol ameaçava nascer e levantava-se por volta das 18 ou 19 horas. ( Não, deixem-se de disparates pensando que era a reincarnação do Conde Drácula, este deve ser o post mais sério que escrevi até hoje neste Blog). Para cúmulo, Joaquim punha cartolina preta nos vidros da janela do seu quarto para não acordar com o Sol que entrava pelas frestas mal fechadas do estore.

Nunca o interrogamos acerca de como era viver assim... Nunca ouvimos um lamento dos seu possíveis problemas, se é que ele os tinha... Nem um lamento...

Passava a vida a ouvir os Led Zeppelin, e umas guitarradas.

O seu passatempo preferido e o seu era fazer piões com o seu carro num campo de futebol abandonado da sua aldeia perdida no meio do Alentejo depois de despachar um copo de whisky barato e um charro.

O sonho de Joaquim, era 60 contos por mês para comer e fazer a sua casinha minúscula na sua aldeiazinha Alentejana, de quem nunca ninguém ouviu falar. O topo da sua carreira seria quando desse aulas de Educação Visual na escola preparatória mais próxima da sua aldeia.

Joaquim era (e penso que ainda é) um homem feliz!

Será preciso algo mais do que uma vida simples como esta?

Vidas simples...


Vidas simples...

Sabe quem me conhece, que embora eu seja uma pessoa simples, de fácil trato e para quem está sempre tudo bem, eu sou uma pessoa extremamente ambiciosa e que sonha abraçar todos os mundos.

Mas acho que a ambição e as capacidades devem andar de mãos dadas. Se por um lado muitas capacidades sem ambição representam um desperdício para a humanidade, e um atentado contra quem não tem tantas capacidades, ambição sem capacidades é uma verdadeira estupidez.
Sempre fui educado para crescer Interior e Exteriormente na mesma proporção, e para crescer em todos os aspectos a cada dia que passa.

Sempre sonhei uma carreira de topo, prestígio, notoriedade, família perfeita, cultura geral vasta e uma existência muito rica e “superiormente interessante”, que me desse orgulho de ser contada aos meus netinhos.

Sempre busquei esta realidade. Ainda não a atingi.

Actualmente, estou numa fase em que questiono TUDO na minha vida.
Até questiono a própria vida, imaginem!!!!

Tenho um curso superior (quase dois), e mais de 20 formações complementares (cada uma com uma média de 80 horas), gastei (gastaram) MILHARES DE CONTOS na minha formação... e os meus conhecimentos académicos são apenas medianos,

Trabalho há mais de 12 anos e a minha carreira não evoluiu muito nos últimos tempos,

O meu salário é menos de metade do que ganhava há sete anos atrás (sete anos - SETE!!!!!),

Emocionalmente, estou instável, a crise dos 30 já cá está meus amigos,

Deixei de acreditar nos ídolos que seguia e idolatrava. Já não acredito nas verdades irrefutáveis em que acreditava...

Tenho esta cabeça num turbilhão e estou muito cansado... MUITO MESMO!!!

Dou por mim a querer ter uma vida simples (o contrário daquilo que sempre quis), ou seja:

Uma vidinha em que me levante às 8 horas da manhã, trabalhe atrás de um balcão das 9h às 18h, vá para casa fazer o jantarzito e veja três ou quatro novelas brasileiras...
...( não fodasse, novelas é que não...) ...
... ia na parte do jantarzito, não era?...
ok... depois veja um filme, ou vá beber um copo com amigos e regresse a casa com o sentimento do dever cumprido.

Quero deixar de sonhar com uma férias no outro lado do mundo, para me contentar com uns fins de semana na Trafaria, com uma cana de pesca numa mão e uma “sandocha” de salsichas na outra...
Que se lixe a sofisticação... O "fato-de-treino cinzento" também cobre o corpo e é quentinho...

Quero deixar de procurar quem me entenda, me estimule intelectual e fisicamente, para passar a viver em função de quem mereça ser entendido, em função de quem me mereça...

Quero deixar de procurar companhia, e em vez disso aceitar estar só, e a gostar dessa solidão.
Quero contentar-me com uma vida simples. Moralmente rica, culturalmente mediana e materialmente suficiente.

Desisti de procurar o que quer que seja. Estou à espera que as coisas me encontrem.

Aliás... Quero eu próprio encontrar-me e atingir a plena felicidade.
(Lá estou eu a falar de “Plenos”)
Vou reformular:

Aliás... Quero eu próprio ser feliz com a muita felicidade que tenho!

Quero apenas a felicidade de uma vida simples.

domingo, fevereiro 19, 2006

A vida é agora


Costumo dizer aos meus amigos, que a minha fortuna é o meu passado, as minhas histórias e recordações.
Por vezes vivo agarrado ao passado. Esperando que o destino me traga o sonho feito realidade.
Não tenho presente… Entreguei-me ao trabalho, à leitura, aos meus pensamentos e dou por mim… sem presente.
Triste vida, a vida vazia…
Não é?
Chega de nostalgia, vem tirar-me a ela…
Não sei quem hás-de ser, nem que rosto hás-de ter,
Mas vem, vem já…peço-te…

Este é o meu grito: VEM!

Não sei o que és mas
Fazes-me falta…
Os dias vêm e vão, sucedem-se entre si, e eu permaneço num limbo entre uma coisa e outra. É o completo vazio… o discurso já não flúi como antes, remeto-me ao silêncio…
Sou cada vez mais uma sombra de mim próprio... do que fui...

Sei que o presente é agora,
A vida é agora e preciso de uma força para vivê-la…

Mas eu contínuo letárgico, amorfo, oco…
Quero seguir em frente,

Vem buscar-me, vem por favor, estimula-me e leva-me a viver contigo…
Por favor!
Vem, peço-te...

O presente é agora, e eu vou vivê-lo!