domingo, fevereiro 11, 2007

Uma Conversa Improvável


O meu coração tem andado a bater em aceleração descontrolada. Ainda mais descontrolada que o costume. É um tonto tum-tum-tum que me ensurdece.

Em consequência da importância das próximas duas semanas para a apresentação de resultados e consequente manutenção do meu emprego, decidi sentar-me com o meu coração e ter com ele uma conversa de “Homem para Coração”.

Sentamo-nos os dois em frente a uma garrafa de Tinto Alentejano, daquele que eu gosto mais, daquele que me aquece o coração.

Comecei o diálogo em tom ríspido:

- Bem meu grande filho-da-puta, vamos lá pôr os "pontos nos i´s"!
- O que é queres desta vez, meu dono incapaz?
- Estou com muita responsabilidade no emprego para os próximos 15 dias e queria pedir-te que deixasses de bater por duas semanas para não atrapalhares o meu trabalho.
- Estás louco?
- Não estou louco, estou com muito traba…
- Meu imbecil não vez que se eu deixar de bater, não te adianta de nada manteres o teu trabalho porque estarás simplesmente… Morto?
- Pá o que te quero pedir é que batas mais devagarinho para que eu não me lembre que existes, e assim possa gastar as minhas energias (apenas!) com trabalho.
- Não creio que isso seja possível, sabes que sou um músculo exigente, importantíssimo e consciente de que precisas de mim para viver e por isso faço o que quero, para que me dês o que preciso. Vai tentar falar com o cérebro, talvez ele te ajude.
- Esse mariola, também não me dá ouvidos… até já tomei ampolas para aumentar a concentração e ele, nada, não pára de pensar no que não deve…
- Pois, temos pena, eu também não me dou muito bem como ele, não suporto a sua mania de que é um órgão vital… imaginem… o cérebro um órgão vital hah aha hah que me mijo de tanto rir…
- Vá pá, deixa-te de tretas, faz-me lá esse favor. Bate devagarinho, só por quinze dias…
- E aquele favor que me prometeste?
- Qual favor?
- Que me arranjavas um grande, grande amor… Ainda não cumpriste.
- Pois nisso tens razão, mas não tenho conseguido gostar de ninguém.
- Pronto, comigo é assim, não cumpres também não te ajudarei, continuarei a bater, o mais forte possível até que cumpras o prometido, ou até ter uma síncope e te faça morrer.
- Pronto, contra ti nada posso fazer estou nas tuas mãos.
- Porta-te bem e tenta trabalhar… que eu cá continuarei a bater.