quinta-feira, setembro 15, 2005

Querido Diário I


Arcozelo, 15 de Setembro de 2005

Querido diário:

Eram 7 horas da manhã quando o despertador tocou.

Ainda sem abrir os olhos dei-lhe um murro, virei-me para o outro lado para dormir mais um bocadito.

Voltou a tocar 9 minutos depois e decidi que tinha que me levantar.

Abri os olhos, cocei os tomates, amaldiçoei o mundo, bendisse quem me pôs nele, e lamentei não existir a “pílula do dia seguinte” na época em que fui gerado, já lá vão uns longínquos 50 anos.

Tomei um duche, a ferver, tomei um pequeno almoço, e liguei o “botão de pensar”, (o botão de pensar é um extra que eu tenho e que tento manter desligado sempre que possível para não me chatear).

Logo que o liguei comecei a “pensar” o que deveria escrever num blog que criei.

Pensei, pensei, e decidi não pensar mais e ir trabalhar, porque para ser funcionário publico como sou à 25 anos, não é preciso pensar muito. Por isso deixei-me de merdas, desliguei o botão de pensar, e fui trabalhar para a repartição de finanças onde consumo os meus dias.

Entrei no carro, e sem pensar pus-me na alheta.

Passei o dia entre carimbos, impressos, senhas ( a minha função é só dizer “Próximo.”, pois para o resto não é preciso pensar), e uma colega tão boa quanto burra, que é a minha chefe. Bem, ela não é minha chefe, porque pense, ou porque saiba pensar, ela só é minha chefe porque dorme com o chefe dela.

Mas pronto, eu não me importo, pois sou funcionário público e não tenho que me importar com nada.

Terminei o trabalho, e vim para casa. Liguei o PC e o botão de pensar e fui visitar uns blogs novos. Fui portanto “Blogar”. “Blogar é um novo desporto que criaram para aqueles que querem ser ouvidos, e eu como às vezes tenho necessidade de gritar para ser ouvido, resolvi também criar um blog.

Comentei os blogs de uns blogadores que lá costumam escrever, e que vão dizendo o que pensam. Pobres tontos que pensam que podem mudar o mundo, pensando, escrevendo e despertando consciências.

Eu também era como eles, até que vi que não havia necessidade de me ralar com isso e fui para funcionário publico, porque era mais bem pago que pensar e fazer “Blogagens” e “ Blogadelas”.

Ser “blogante”, não nos leva a lado nenhum!

Querido Diário:

Agora que já jantei, vim dar-te um pouco de atenção, a ti que ninguém lê, mas que me ouves mesmo que fale baixinho. És um grande amigo. Obrigado.

Não posso escrever muito hoje pois comi uma belíssima feijoada, e não tarda nada tenho que ir ali buscar o “Brise, ambientador, com aroma de alfazema e sem ClorofluoroCarbonetos” que vi anunciar na TV. Estes gajos inventam tudo.

No meu tempo um gajo mandava umas bufas e tinha que se aguentar com o cheiro.

Querido diário:

Depois de espalhar o “Brise, ambientador, com aroma de alfazema e sem CloroFluoroCarbonetos”, vou dormir, pois aqui em Arcozelo não há muitas actividades culturais que façam um gajo pensar. Isso é para os gajos lá de Lisboa e Porto, que são tão espertos, tão espertos... que até aparecem na televisão.

Vou desligar o botão de pensar.

Até breve querido diário.